Retrospectiva 2020 – Varejo

20 de novembro de 2020
Matheus Ladvig Budelon – Sócio-Fundador da AlterVision

Resume aí:

O varejo brasileiro sofreu de forma inédita no ano de 2020 – enfrentou a pandemia de frente, viu as vendas despencarem, lojas fecharem e o fluxo de pessoas cair. Também vivenciou, de junho em diante, uma escalada de vendas e um e-commerce em crescimento, saindo da zona de conforto para implementar aqueles projetos inovadores que estavam guardados na gaveta. Mas e aí, como foi este ano para o seu varejo? Acompanhe a retrospectiva do ano deste setor tão especial.

Análise dos dados mês a mês

Em janeiro de 2020, o varejo estava vivendo sua lua de mel, que já durava 10 meses, com avanço de 1,3% no faturamento comparado ao mesmo mês do ano anterior e com a 10º taxa positiva consecutiva de crescimento de faturamento. O comércio de móveis e eletrodomésticos se destacou e apresentou crescimento de 11% em relação ao mesmo mês do ano precedente. No entanto, em janeiro, já se notava uma tendência de perda de força do varejo (como mostrado pela Figura 1, a seguir), com ajuste sazonal e normalizado em relação ao máximo faturamento de 2014, como mostra o índice de base fixa*:

Fevereiro foi um mês de destaque, com aumento de 4,7% no volume de vendas frente ao mesmo mês do ano antecedente, e com um aumento de 1,2% frente ao mês precedente. O setor de móveis e eletrodomésticos, mais uma vez, arrastou a média do varejo para cima com crescimento de 11,7% frente ao primeiro mês do ano anterior. 

“Mês das incertezas” – essa é a definição para o mês de março. O coronavírus deu seus primeiros sinais em território brasileiro e a Europa em crise mostrava o que o Brasil deveria aguardar nos próximos meses. O comportamento do consumidor começou a ser impactado pelas notícias, sendo que sentiu-se uma queda de 2,5% frente ao mês precedente e uma queda de 1,2% frente à março de 2019, quebrando a sequência de 11 meses consecutivos de crescimento. 
Em abril, o distanciamento social começou a ser implementado no Brasil. Viagens, trabalho e estudos entraram em stand by, empresas pequenas começaram a ter problemas com a folha de pagamento e o consumo desabou, impactando o IPCA, que registrou queda de -0,31%.
Na bolsa, o setor de varejo também sangrou. O fundo de shoppings XPMalls caiu 31,49% no acumulado março a abril e outro fundo importante, o CSHG Brasil Shopping, caiu 24,56% no mesmo acumulado, já precificando a queda de receitas dos meses a seguir. O volume de vendas apresentou queda de 16,8% frente à março e, no acumulado do ano, a queda foi de 3% frente aos 4 primeiros meses do ano antecedente. 
 
Maio ensaiou uma subida em ‘V’, com 13,9% de aumento frente ao mês precedente. Mesmo com ganho, o varejo ainda registrou uma perda de 7,2% no faturamento frente ao mês do ano anterior. 
A Figura 2 resume este volume de vendas:

Junho manteve a tendência de crescimento e recuperação em ‘V’, com aumento de 9,1% em relação ao mês precedente e 0,5% em relação ao mesmo mês do ano antecedente. Por meio da Figura 3, pode-se verificar uma recuperação rápida e em forma de ‘V’ nos 3 primeiros meses após o fundo registrado em abril.

Julho foi o mês com mais mortes pela Covid-19 até o momento, registrando 32.912 vidas perdidas. Mesmo com o vírus impactando o deslocamento e impondo regras restritas de higienização e capacidades reduzidas ao varejo, o mesmo se reinventou. Novos canais de venda foram ativados e um novo crescimento de 5,2% em relação ao mesmo mês precedente foi registrado, com um crescimento de 5,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. No acumulado do ano, o recuo ficou em apenas 2% comparado ao mesmo período do ano precedente. Destacou-se o setor de tecidos, vestuário e calçados, que viram suas vendas explodirem em 25,2%. 

Agosto registrou aumento de 3,2% de vendas em relação ao mês de julho. Contra o mesmo mês do ano antecedente, mais um aumento de 6,6%. A queda acumulada restou em apenas -0,9% em relação ao acumulado do ano precedente. Neste mês também houve o destaque do comércio de roupas e calçados com 30,5% de aumento de vendas em relação ao mês anterior. 

Setembro contou com um aumento de 0,6% frente ao mês precedente e 7,3% em relação ao ano antecedente. Notou-se uma desaceleração acentuada no crescimento das vendas, como mostra a Figura 4:

É interessante analisar estes mesmos dados por meio do Índice Cielo do Varejo Ampliado – ICVA, produzido pela empresa Cielo. O índice indicou o crescimento da receita nominal de vendas no varejo ampliado do período, comparando-a com o mesmo período do ano precedente sem os efeitos de calendário que impactam determinado mês/período, quando comparado com o mesmo mês/período do ano anterior. Pelo índice Cielo, as vendas ainda estão sofrendo em comparação com o ano precedente, como mostra a Figura 5:

Próximos capítulos – Pontos de atenção.

Uma pressão inflacionária começa a ser sentida, como mostra o gráfico a seguir:

A inflação de outubro ficou em 0,86%, maior alta para o mês desde 2002, bastante influenciada pela alta dos alimentos. Isso já impacta o poder de compra do brasileiro. Outro ponto a se observar para o futuro é o endividamento público, que já chega a quase 100% do PIB, como mostra o gráfico a seguir, com uma qualidade da dívida que vem se deteriorando:

Conclusão

 

O ano de 2020 foi, com certeza, atípico, contando com muitos meses difíceis. Embora o impacto nas vendas tenha sido forte, deve-se ressaltar que o varejo brasileiro se mostrou resiliente, adaptável e capaz de se reinventar. Ademais, deve-se ressaltar o impacto positivo que a situação de crise teve nas empresas no que tange à digitalização de processos e eficiência operacional.  

Pessoalmente, fico orgulhoso de poder fazer parte dessa onda de digitalização e trabalhar duro por um varejo mais robusto, inteligente e omnichannel. Podem contar comigo e com a AlterVision para impulsionar esta revolução

 

*Compara os níveis nominal e de volume da Receita Bruta de Revenda do mês com a média mensal obtida no ano de 2014. 

Fontes:

https://ri.cielo.com.br/informacoes-financeiras/indice-cielo-do-varejo-ampliado-icva/

https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/comercio.html

https://conteudos.xpi.com.br/economia/a-divida-publica-brasileira-e-a-solvencia-do-tesouro-direto/